O câncer de próstata é um assunto bastante abordado quando se trata de saúde masculina, mas quando voltamos nosso olhar para a população de mulheres trans, travestis e trans feminina no geral, o cenário muda completamente. Existe pouca informação sendo repassada e o assunto não é tratado com a seriedade e responsabilidade que merece. A mulher trans pode ter câncer de próstata, e por conta disso, precisa realizar os exames para que a detecção seja feita o quanto antes.
No artigo de hoje, a Omens vai responder algumas perguntas importantes e informar sobre como o câncer de próstata atinge as mulheres trans e travestis, como é possível se prevenir e como acontece o tratamento. Vamos juntos entender quais as melhores orientações para lidar com esse tipo de problema:
Índice
O risco de câncer de próstata para a mulher trans e para a travesti
Não é segredo que a população trans enfrenta diversos problemas ao lidar com o sistema de saúde brasileiro. Esses problemas vão desde o acolhimento inadequado dessa parcela da população, assim como a ausência de um acompanhamento multiprofissional para cada paciente.
O preconceito, falta de conhecimento e violência psicológica afasta a comunidade trans cada vez mais de uma transição segura e da manutenção da saúde. É exatamente aí que começam os riscos. Não apenas do câncer de próstata, mas do câncer de mama e outros problemas de saúde.
Ao não contar com profissionais preparados, é comum que mulheres trans e travestis contem com as informações que encontram através da própria comunidade ou da internet. E essas informações nem sempre vem de fontes confiáveis ou são encontradas com fácil acesso.
Apesar dos números de câncer de próstata em mulheres trans não serem exorbitantes, o risco aumenta quando não se tem acesso a consultas médicas e uma equipe preparada para cuidar da paciente. Aumenta ainda mais quando não se tem informações de qualidade sobre o assunto disponíveis para a população. É, portanto, essencial falar sobre e preparar equipes médicas para o atendimento.
Câncer de próstata [Omenscast #5]
No quinto episódio do Omenscast, o médico e urologista João Brunhara, especialista em sexualidade masculina, fará uma apresentação bem detalhada sobre o câncer de próstata, incluindo seus fatores de risco, formas de prevenção, sintomas e tratamentos. A transcrição do áudio você poderá encontrar aqui.
Sintomas do câncer de próstata
No Brasil, foram registrados mais de 65 mil casos novos de câncer de próstata em 2020. Desses, 15 mil casos levaram ao óbito. É imprescindível que para aumentar as chances de cura, os exames preventivos e rotineiros, como exame de toque, por exemplo, sejam realizados. Até porque, o câncer de próstata em estágio inicial pode não provocar sintomas e a única forma de identificá-lo é através de exames e consultas médicas.
Em estágios mais avançados, o câncer de próstata pode provocar:
- jato de urina fraco ou com interrupções;
- sangue na urina;
- micção frequente;
- sangue no sêmen;
- disfunção erétil.
É importantíssimo procurar um médico urologista caso apresente qualquer um desses sintomas.
Como prevenir?
Em estágios iniciais, o câncer de próstata em mulheres trans e travestis pode não apresentar sintomas, portanto, exames rotineiros são a melhor forma de identificar essa doença. Mas e a prevenção, como funciona? É possível prevenir o câncer de próstata?
A prevenção envolve cuidados com a própria saúde e bem estar:
- alimentar-se de maneira saudável, com uma dieta rica em grãos, verduras e frutas;
- não fumar e evitar o consumo de bebida alcóolica;
- manter um peso corporal adequado.
Como o câncer de próstata pode impactar a ereção [Vídeo]
Quando se fala sobre o câncer de próstata, os principais assuntos são sintomas, rastreamento (como o exame do toque retal) e tratamento… Mas você sabia que existem boatos de que o câncer de próstata pode ser uma das causas da disfunção erétil? Então, seria a falta de ereção um dos sintomas do câncer de próstata? Como o câncer de próstata e problemas como a próstata aumentada podem causar uma ereção fraca? Venha entender a relação entre “broxar” após um caso ou o tratamento do câncer e encontre mais um motivo para sempre fazer o exame da próstata!
Mas o mais importante está no diagnóstico precoce!
A estratégia mais eficaz de se proteger do câncer de próstata é o rastreamento e diagnóstico precoce. Sim, não estamos falando de evitar a doença, mas de detectá-la em estágio precoce e com chances maiores de cura.
Isso consiste em realizar o toque retal e o exame de sangue (PSA) anualmente a partir dos 50 anos de idade; ou a partir dos 45 anos para quem tem histórico familiar de câncer de próstata ou para pessoas negras, que têm um risco genético aumentado de desenvolver esse tumor.
O câncer de próstata pega na relação sexual?
Segundo uma pesquisa desenvolvida nos Estados Unidos, pode haver uma ligação entre câncer de próstata e a tricomoníase. Mas essa pesquisa foi realizada apenas em laboratório e em pacientes reais não foi encontrada uma ligação clara entre as duas doenças.
Portanto, ainda não se tem evidências muito claras sobre isso. De qualquer forma, manter uma boa saúde no geral é ideal e isso inclui a utilização de preservativos para evitar possíveis ISTs.
A importância do acompanhamento médico multidisciplinar
Se existe o pensamento de começar a terapia hormonal ou fazer uma cirurgia para afirmação de gênero, é necessário o acompanhamento médico multidisciplinar. Não só para minimizar as chances de câncer de próstata e de mama, mas para evitar outros problemas decorrentes da utilização inadequada de hormônios. Aliás, vale ressaltar o papel do endocrinologista nessa parte hormonal.
Exames de rotina e preventivos podem ajudar a aumentar a chance de cura em até 95% do câncer de próstata. Portanto, se torna essencial que esses exames sejam realizados e que as mulheres trans e travestis tenham acesso ao acompanhamento multidisciplinar.
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Quem não faz terapia hormonal corre algum risco?
Sim, existe risco de câncer de próstata para quem faz ou não terapia hormonal. Para quem não faz a terapia hormonal, nada se altera na produção de testosterona no corpo, portanto, a próstata continua com o mesmo tamanho e o mesmo nível de risco que um homem cis.
Já para quem faz terapia hormonal, em teoria existem chances do risco ser menor. Isso porque ao utilizar bloqueadores que diminuem a testosterona no corpo, a próstata também diminui de tamanho. Mas é importante deixar claro que existem poucos estudos e pesquisas sobre quem faz a terapia hormonal e sobre quem repõe hormônios femininos.
Além disso, independente do gênero ou da forma como a pessoa decide afirmá-lo , se a pessoa possui uma próstata, sempre existirá o risco do câncer, mesmo que mínimo. Então, os exames preventivos e acompanhamento médico sempre são recomendados.
Quem já fez a cirurgia de afirmação de gênero corre risco de ter câncer de próstata?
Caso a próstata seja retirada, não existe risco, enquanto que, para aquelas que não fizeram a retirada, a próstata continua sendo possível alvo de câncer.
Vale ressaltar que a técnica da cirurgia de redesignação de gênero não envolve habitualmente a retirada da próstata, já que esse órgão é totalmente interno e não produz hormônios. Isto é, sua presença não interfere com o tratamento de adequação do aparelho genital.
Portanto, voltamos ao que foi dito anteriormente: se existe próstata, existe a chance de câncer de próstata. Vamos ressaltar mais uma vez que a descoberta precoce tem quase 100% de chance de cura. Além disso, esse é um dos principais tipos de câncer que atinge pessoas com próstata aqui no Brasil. Não deixe de se cuidar e realizar os exames de toque, além de outros exames preventivos.
Tratamentos
Os tratamentos envolvem desde cirurgia, quimioterapia e radioterapia, até mesmo uma terapia hormonal direcionada ao câncer. O tipo de tratamento vai depender do estágio da doença e das possibilidades da paciente. É preciso que os prós e contras sejam discutidos diretamente com o médico responsável pelo caso. Quando descoberto cedo, o câncer de próstata tem uma grande chance de cura.
Conclusão
A população de travestis e mulheres trans precisa ter acesso à saúde como qualquer outra pessoa. E é necessário entender que essas mulheres precisam realizar o exame de toque e outros exames preventivos para o câncer de próstata e de mama. Esse tipo de cuidado é essencial para que exista uma qualidade e expectativa de vida maior e melhor para mulheres trans e travestis.
Referências
- Carta Capital – Carlos Eduardo Seraphim. As mudanças nas regras para o tratamento de pessoas trans são uma vitória na medicina.
- Revista Trabalho, Educação e Saúde 18 (1) • 2020. Acesso à saúde pela população trans no Brasil: nas entrelinhas da revisão integrativa.
- BBC News Brasil – Michelle Roberts. Câncer de próstata pode ser sexualmente transmissível, dizem cientistas.
- Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA). Travestis e mulheres trans tem risco de câncer de próstata?