Lipodistrofia: HIV e causas

um cachorro da raça pug com distribuição de gordura diferente da usual
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Marjorie Tieny

Última atualização

27 de fevereiro de 2025

A lipodistrofia associada ao HIV é uma complicação que pode ocorrer devido ao uso de medicamentos antirretrovirais. Ela pode se manifestar de duas maneiras diferentes: acúmulo de gordura, chamado de lipohipertrofia, ou perda de gordura, chamada de lipoatrofia. Às vezes, as duas coisas acontecem juntas.

No artigo de hoje, vamos abordar a lipodistrofia associada ao HIV, uma condição que pode ser prevenida e tratada. Continue com a gente para saber mais sobre como cuidar da sua saúde e prevenir essa condição!

O que é a lipodistrofia?


A lipodistrofia é um termo geral para um grupo de condições onde você pode ter uma perda completa ou parcial de gordura (tecido adiposo) em certas partes do corpo. Também pode ocorrer uma distribuição anormal de gordura.

Por afetar a distribuição de gordura, essa condição acaba causando problemas como esteatose (acúmulo anormal de gordura no fígado), dislipidemia (níveis anormais de gordura no sangue) e resistência à insulina. A ausência de gordura (tecido adiposo) compromete a capacidade do corpo de armazenar energia, impactando a sensibilidade à insulina e o metabolismo lipídico.

Existem diferentes tipos de lipodistrofia, podendo ser genética ou adquirida ao longo da vida.

Esses tipos de lipodistrofia afetam cada pessoa de formas diferentes e podem acarretar sintomas diferentes. 

Tipos GENÉTICOS de lipodistrofia

As condições genéticas de lipodistrofia incluem:

  • Lipodistrofia generalizada congênita (LGC): Esta é uma forma rara de lipodistrofia, também conhecida como síndrome de Berardinelli-Seip. Se caracteriza pela perda parcial e, em alguns casos, quase completa, de gordura devido a uma mutação genética presente desde o nascimento. Geralmente, é identificada nos primeiros anos de vida, com ênfase na lipodistrofia nas pernas.
  • Lipodistrofia parcial familiar (LPF): Esta forma de lipodistrofia, também de origem genética e hereditária, costuma ser diagnosticada mais tardiamente na infância. Com ênfase na lipodistrofia nas pernas e braços, enquanto há um acúmulo excessivo de gordura no rosto e pescoço.

Tipos ADQUIRIDOS de lipodistrofia

A lipodistrofia adquirida inclui:

  • Lipodistrofia generalizada adquirida (LGA): conhecida também como síndrome de Lawrence,  geralmente provoca diminuição de gordura em áreas como rosto, pescoço, braços e pernas. Isso pode acontecer rapidamente em semanas ou gradualmente ao longo de meses ou anos. O desenvolvimento dessa condição é variado, podendo começar na infância, adolescência ou em qualquer idade. 
  • Lipodistrofia parcial adquirida (LPA): também chamada de síndrome de Barraquer-Simons, se caracteriza pela diminuição progressiva de gordura em regiões como rosto, pescoço, braços e tórax, especialmente durante a infância. Algumas pessoas com LPA podem acumular gordura extra em áreas como abdômen, pernas ou glúteos. Frequentemente, está associada a condições autoimunes.
  • Lipodistrofia induzida por terapia antirretroviral altamente ativa (LD-HIV): Essa forma de perda de gordura acontece em pessoas que têm o vírus da imunodeficiência humana (HIV) e recebem tratamento antiviral, conhecido como terapia antirretroviral altamente ativa (HAART) com inibidores de protease do HIV-1. O desenvolvimento dessa condição está relacionado à intensidade e duração do tratamento. Na maioria dos casos, ocorre uma diminuição gradual de gordura nos braços, pernas e rosto. Em alguns casos, pode haver um acúmulo de gordura excessiva no rosto, pescoço, parte superior das costas e cintura.
  • Lipodistrofia abdominal localizada: Este tipo de perda de gordura afeta uma área pequena do corpo e pode ocorrer em locais comuns de aplicação de medicamentos, como injeções de insulina. Apresenta-se como uma cavidade ou depressão, geralmente sem afetar a pele sobrejacente.

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Quais são os sintomas da lipodistrofia?


Como existem diferentes tipos de lipodistrofia, os sinais podem variar bastante.

O sinal mais comum da lipodistrofia é uma diminuição notável e consistente da quantidade de gordura em algumas partes do corpo, enquanto outras regiões podem ter quantidade normal ou até excessiva de gordura.

Por exemplo, pessoas com lipodistrofia parcial adquirida (LPA) geralmente experimentam uma perda progressiva de gordura no rosto, pescoço, braços e tórax durante a infância. Algumas pessoas com LPA podem apresentar excesso de gordura ao redor do abdômen, pernas ou glúteos.

Dependendo do subtipo de lipodistrofia que você tem e da sua idade, você pode não perceber problemas de saúde por vários anos. Alguns tipos de lipodistrofia podem causar níveis elevados de colesterol, triglicerídeos e glicose no sangue, que podem ser identificados por seu médico por meio de exames de rotina, como um teste de colesterol e um exame básico de metabolismo.

Alguns tipos de lipodistrofia, especialmente os parciais, podem ser difíceis de detectar. Por isso, é essencial procurar seu médico se estiver apresentando novos sintomas ou se os sintomas piorarem, independentemente da causa.

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Relações com o HIV


Efeitos colaterais têm sido associados à terapia antirretroviral em pacientes com HIV. Entre esses, destaca-se a lipodistrofia. A lipodistrofia é caracterizada pelo aumento parcial ou total de gordura, mas também se destaca a lipoatrofia, que consiste na perda de gordura na face, nos glúteos e braços e pernas. Um estudo feito em 2008, realizado com 84 pacientes portadores de HIV, demonstrou que 47,61% apresentaram alterações corporais. 

Importante destacar que a lipodistrofia é uma condição com múltiplos fatores, porém os medicamentos que ajudam a controlar o HIV podem causar complicações metabólicas e mudanças na distribuição de gordura no corpo, levando a interrupções no tratamento. É fundamental enfatizar que interromper o tratamento pode ter sérias consequências. Mesmo que complicações metabólicas e mudanças na distribuição de gordura possam ocorrer, a interrupção do tratamento não é a solução. É aconselhável que a pessoa não tome essa decisão por conta própria.

Ao perceber mudanças significativas no metabolismo, como alterações no peso corporal ou distribuição de gordura, é crucial buscar orientação médica. Manter uma comunicação aberta com o médico é essencial para garantir a eficácia do tratamento e o bem-estar geral.

Os fatores que aumentam o acúmulo de gordura em pessoas com HIV são mais relacionados ao hospedeiro, como idade avançada, ser do sexo feminino e ter mais gordura corporal inicialmente. Além disso, o estilo de vida também desempenha um papel importante, com uma quantidade elevada de calorias consumidas e níveis altos de triglicerídeos sendo fatores de risco para o aumento de gordura, chamado de lipohipertrofia.

células virais

Qual é a diferença entre lipodistrofia e lipoatrofia?


A lipodistrofia é uma condição que afeta o metabolismo da gordura causado pelo acúmulo ou perda de gordura. A lipoatrofia é quando existe perda de gordura. Pode ter origem genética ou se desenvolver ao longo do tempo.

A forma mais comum de lipodistrofia é a lipodistrofia adquirida. Na lipodistrofia parcial adquirida, as pessoas podem acumular gordura nas pernas e quadris. Essa condição também está relacionada a problemas autoimunes, como lúpus, hipotireoidismo e artrite reumatoide. Além disso, o tratamento prolongado do HIV com certos medicamentos antirretrovirais pode causar a perda de gordura em áreas como rosto, braços, pernas e glúteos, enquanto pode aumentar no pescoço e nas costas.

A lipodistrofia adquirida também pode surgir em locais de injeção de esteroides, insulina (lipodistrofia abdominal), penicilina, acupuntura, ferro, hormônio do crescimento e vacinas. Condições como inflamação da gordura subcutânea (paniculite) e atrofia hemifacial progressiva são consideradas formas de lipodistrofia adquirida.

Já a lipodistrofia genética pode afetar todo o corpo (generalizada) ou partes específicas (parcial). A forma generalizada, causada por mutações genéticas, resulta na perda geral de gordura corporal, acompanhada de níveis elevados de insulina e gorduras no sangue. A lipodistrofia genética parcial está associada a síndromes metabólicas, incluindo hipertensão, resistência à insulina, diabetes e altos níveis de triglicerídeos.

Tenofovir, Dolutegravir, etc.: causam lipodistrofia?

A causa exata da lipodistrofia é desconhecida. No entanto, o uso de medicamentos antirretrovirais específicos, como zidovudina e estavudina, está fortemente associado ao desenvolvimento de lipoatrofia. No entanto, os medicamentos mais recentes, como abacavir ou tenofovir, demonstraram prevenir a progressão dessa condição.

Um estudo realizado na Coreia do Sul demonstrou que o uso de estavudina é um grande fator de risco para o desenvolvimento de lipodistrofia. Enquanto a substituição para abacavir (ABC) ou tenofovir (TDF), tem demonstrado reverter gradualmente a lipoatrofia, especialmente nos casos mais graves.


O dolutegravir está associado a um maior ganho de peso em pessoas que iniciam a terapia antirretroviral (TAR) em comparação com outras classes de medicamentos antirretrovirais. Porém, não existem evidências da sua relação com lipodistrofia.

Vale ressaltar que o ganho de peso após o início do tratamento antirretroviral é comum. Ganhar uma quantidade maior de peso é normal, especialmente em pessoas com HIV mais avançada ou com baixa massa corporal antes do tratamento, e isso independe do uso de Dolutegravir.

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Tratamento


O tratamento para lipodistrofia visa evitar problemas de saúde adicionais. O médico pode sugerir mudanças no estilo de vida, como exercícios regulares e uma dieta equilibrada, além de medicamentos como metformina e estatinas. Em casos específicos, tratamentos estéticos, como lipoaspiração para remover gordura acumulada, ou lipoenxertia, transferindo gordura de uma área para outra, podem ser recomendados. Em certas situações, a cirurgia bariátrica pode ser uma opção para perda de peso e melhorias no metabolismo, prevenindo problemas de saúde.

O tratamento e cuidado da lipodistrofia variam conforme o tipo que você tem e se há outras condições junto, como diabetes ou colesterol alto.

Algumas abordagens comuns incluem:

  • Substituição de leptina: Seu médico pode receitar metreleptina, uma versão artificial do hormônio de gordura, a leptina. Esse hormônio ajuda a controlar os processos do corpo e pode reduzir níveis altos de colesterol e triglicerídeos.
  • Tratamento para diabetes e resistência à insulina: Se lipodistrofia causar resistência à insulina ou diabetes, seu médico pode indicar remédios orais, como pioglitazona, metformina, sulfonilureias ou tiazolidinedionas. Alguns podem precisar de insulina artificial.
  • Controle de triglicerídeos e colesterol: Remédios mencionados acima para diabetes também podem ajudar a regular colesterol. Para hipertrigliceridemia, alguns podem precisar de derivados de ácido fíbrico ou suplementos de ácidos graxos n-3, presentes em óleos de peixe.
  • Cirurgia estética: Para áreas sensíveis, como rosto, peito ou região púbica, cirurgia estética pode ser considerada. Cirurgiões podem usar transplante de gordura, reconstrução facial e implantes em áreas sem tecido adiposo. Lipoaspiração ou cirurgia pode remover gordura indesejada.
seis potes contendo amostras virais

Prevenção: é possível?


Na maioria das vezes, a lipodistrofia não pode ser evitada.

As formas genéticas da lipodistrofia não podem ser prevenidas, pois resultam de uma mutação genética herdada. Porém no caso genético é possível diagnosticar no pré-natal, por meio de testes genéticos.

As formas adquiridas de lipodistrofia geralmente são desencadeadas por infecções ou condições autoimunes. Embora algumas infecções, como catapora e coqueluche, possam ser prevenidas com vacinas, outras infecções relacionadas à lipodistrofia adquirida e condições autoimunes não podem ser evitadas. 

Em relação à perspectiva e ao prognóstico da lipodistrofia, isso depende significativamente do tipo específico que você tem e se existem condições ou complicações associadas, como diabetes, problemas hepáticos ou renais.

A correção estética de áreas com falta ou excesso de gordura tem mostrado melhorar a qualidade de vida em pessoas com lipodistrofia.

Conclusão


A lipodistrofia associada ao HIV é uma complicação do uso de medicamentos antirretrovirais, podendo manifestar-se como acúmulo ou perda de gordura. Existem tipos genéticos e adquiridos, cada um com sintomas distintos. 

O tratamento visa evitar comorbidades, incluindo mudanças no estilo de vida, medicamentos e procedimentos estéticos, adaptados ao tipo de lipodistrofia e condições associadas. A substituição de medicamentos pode ser recomendada. O cuidado individualizado é essencial, abordando questões metabólicas e estéticas, para promover a saúde e qualidade de vida.

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