Tratamentos recentes aumentam sobrevida para 27% em cinco anos nos EUA; Brasil incorpora testes genéticos obrigatórios no SUS
A sobrevida de pacientes com câncer de pulmão em cinco anos chegou a 27% nos Estados Unidos, segundo relatório anual da American Cancer Society, divulgado este ano. Embora o índice ainda seja considerado baixo, representa aumento em relação aos anos anteriores, o que é justificado pela detecção precoce e o uso de terapias moleculares e imunoterapias.
O câncer de pulmão é o segundo tipo mais comum no mundo e lidera as causas de morte por neoplasias malignas. São cerca de 2,4 milhões de casos e 1,8 milhão de óbitos anualmente, correspondendo a quase 25% das mortes por câncer em escala global, segundo o Observatório Global do Câncer.
No Brasil, são registrados por ano 32.560 diagnósticos de câncer de traqueia, brônquios e pulmão, de acordo com as estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca). Desses casos, 18.020 ocorrem em homens e 14.540 em mulheres.
Dados do programa SEER (Surveillance, Epidemiology, and End Results), do Instituto Nacional do Câncer (NCI) dos EUA, revelam que tumores identificados ainda localizados apresentam taxa de sobrevida em cinco anos de 64,7%. Nos casos de doença metastática, a taxa média fica em 9,7% – este mesmo grupo, no entanto, também registrou melhorias com as novas gerações de fármacos e combinações terapêuticas desenvolvidas nos últimos dois anos.
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Detecção precoce pode quadruplicar as chances de sobrevida
As recomendações da American Cancer Society são de que adultos entre 50 e 80 anos com histórico de tabagismo de 20 maços-ano ou mais devem realizar triagem anual por tomografia computadorizada de baixa dose. O rastreamento pode identificar a doença quando ainda está confinada ao órgão de origem, momento em que as intervenções cirúrgicas e terapêuticas apresentam maior eficácia, como cirurgia de ablação e ressecção convencional.
No Brasil, o Ministério da Saúde recomenda a tomografia computadorizada de baixa dose anual para pessoas entre 50 e 80 anos com histórico de tabagismo de 20 maços-ano ou mais. A testagem molecular do tumor para mutações em genes como EGFR, ALK, ROS1 e BRAF passou a ser obrigatória nos protocolos clínicos do SUS. A análise genética direciona a escolha entre terapia-alvo, imunoterapia ou quimioterapia convencional, segundo as diretrizes publicadas pela Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica.
Perfil genético do tumor orienta a escolha do tratamento
A classificação histológica da doença ajuda a determinar as opções de tratamento e o prognóstico do paciente. O câncer de pulmão de pequenas células é o subtipo mais agressivo, com evolução rápida e prognóstico historicamente desfavorável. Esse tipo está frequentemente associado a pacientes com longo histórico de tabagismo e idade avançada. A sobrevida em cinco anos oscila entre 15% e 30%, segundo dados do Oncoguia.
O tratamento do câncer de pulmão de células não pequenas considera características moleculares específicas de cada subtipo. Os tumores com mutação no gene EGFR merecem atenção. O pesquisador do Inca, Vitor Marcondes, em entrevista à imprensa, afirmou que essa alteração genética torna a doença particularmente agressiva. A mutação é especialmente prevalente no Brasil e em países asiáticos, segundo relatório de 2025 da Sociedade Americana de Oncologia Clínica.
Nova combinação aumenta sobrevida
Para pacientes com mutação no gene EGFR, medicamentos como amivantamabe e lazertinibe demonstraram resultados promissores. O estudo MARIPOSA, de fase 3, publicado em setembro, no The New England Journal of Medicine, comparou a combinação desses dois fármacos.
Os resultados mostraram que 56% dos participantes que receberam a nova combinação permaneceram vivos após 3,5 anos, comparados a 44% no grupo tratado de forma convencional. As projeções indicaram sobrevida superior em mais de um ano.
O Inca destaca que, antes dessas terapias, pacientes com câncer de pulmão portadores de mutação no gene EGFR tratados com quimioterapia convencional viviam aproximadamente um ano após o diagnóstico. Com os medicamentos direcionados, essa barreira temporal foi ultrapassada.
A combinação de duas drogas distintas ataca diferentes receptores do gene mutado simultaneamente. Mesmo com tratamento bem-sucedido, pode haver surgimento de novas mutações que levam ao retorno da doença, e a terapia dupla reduziria a incidência dessas mutações secundárias.
Anvisa aprova tratamento inédito
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou uma nova indicação para o durvalumabe. O medicamento pode ser utilizado no tratamento de câncer de pulmão de pequenas células em estágio limitado, com potencial para reduzir em até 27% o risco de morte após quimioterapia e radioterapia, conforme o Oncoguia.
A aprovação baseou-se no estudo ADRIATIC de fase 3, que avaliou 730 pacientes. O trabalho demonstrou os efeitos da imunoterapia em 57% dos pacientes tratados com durvalumabe, que permaneceram vivos após três anos. Para médicos especialistas, a aprovação representa um marco no tratamento de pacientes com prognósticos desafiadores, pois traz pela primeira vez a imunoterapia com ganho de sobrevida para um campo que permaneceu sem novas opções terapêuticas por duas décadas.
O mecanismo de ação difere das abordagens convencionais. O medicamento bloqueia mecanismos que impedem o sistema imunológico de reconhecer o câncer, e assim a imunoterapia permite que o sistema de defesa volte a identificar o tumor.
Fatores de risco vão do tabagismo à predisposição genética
O tabagismo permanece como principal fator de risco para o câncer de pulmão, mas não é o único. Exposição à poluição do ar, infecções pulmonares de repetição, doença pulmonar obstrutiva crônica, fatores genéticos e histórico familiar também elevam as chances de desenvolvimento do tumor.
Segundo o Inca, o tumor ocupa a quarta posição em incidência geral, excluindo cânceres de pele não melanoma. A taxa de incidência atinge 17,06 casos por 100 mil homens e 13,15 por 100 mil mulheres. Entre os homens, o câncer de pulmão é a segunda neoplasia mais frequente nas Regiões Sul e Nordeste. Observa-se uma tendência de queda na incidência masculina, reflexo da redução do tabagismo nas últimas décadas, enquanto os números femininos apresentam comportamento mais estável.
Os sintomas costumam surgir em casos já avançados: tosse persistente, escarro com sangue, dor torácica, rouquidão, falta de ar, bronquite e fadiga. O diagnóstico envolve exames de imagem como radiografia e tomografia computadorizada do tórax, além de PET-Scan, com confirmação definitiva através de biópsia pulmonar. O tratamento varia conforme cada caso, podendo incluir quimioterapia, imunoterapia, radioterapia e cirurgia.

